12 formas de ter seu artigo rejeitado

Brian Lucey, professor de Finanças do Trinity College de Dublin, publicou ontem em seu blog alguns aspectos que, caso não sejam observados, irão levar o seu manuscrito submetido direto para a “cidade maldita”.

De maneira bastante informal, e baseado em sua experiência pessoal como pesquisador e editor de periódicos de sua área, Lucey lista 12 pontos que devem ser observados quando da submissão de um artigo. Como você pode ver, alguns exemplos tratam de pontos que não se encontram em todas as áreas (como dados estatísticos, tabelas ou figuras), mas, ainda que não seja uma lista que se pretenda exaustiva, contém conselhos preciosos.

Embora o artigo original tenha uma introdução geral, traduzo abaixo apenas os 12 pontos:

Clareza: o artigo precisa nos dizer o que está fazendo. Se há uma série de boas ideias, todas aglomerando-se mutuamente, em seguida, nos confins do espaço disponível em um artigo de um periódico moderno isso vai ser um problema. Sem entrar no “salami slicing“, onde uma série de artigos são criados a partir de uma única base, cada um diferindo apenas minimamente quanto ao outro, a regra de “One for One”, uma grande ideia por artigo, é uma lei a ser respeitada. Dessa forma, você pode apresentar, um artigo claro, organizado firmemente argumentado. As outras ideias vão em outros artigos. Pergunte a si mesmo – isso está firmemente coerente?

Adequação: Ainda me surpreende quantas vezes eu vejo artigos que simplesmente não estão dentro dos objetivos e do escopo da revista. O quão difícil pode ser verificar se artigos semelhantes foram publicados nos últimos anos, ler a homepage do periódico ou mesmo talvez até mandar um e-mail ao editor ou ao editor associado? Novamente, isso não quer dizer que as revistas não devem, e talvez até mesmo tenham a responsabilidade de, saírem um pouco para “fora da caixa”, mas submeter um artigo teórico para uma revista empírica, ou um artigo sobre comércio internacional para um periódico com foco em finanças corporativas sugere uma preparação desleixada e uma falta de clareza. Verifique se o artigo se encaixa.

Contribuição: eu mencionei o “salami slicing“. Em trabalhos empíricos isso aparece com mais frequência, onde uma ou duas variáveis ou abordagens são alteradas e um novo artigo é produzido. Assim, um trabalho utiliza uma metodologia e outro uma metodologia semelhante, com essencialmente o mesmo conjunto de variáveis explicativas. Essa é realmente uma deficiência para árbitros e editores, onde o temido “teste de robustez” é necessários. Faça o leitor sentir que aprendeu alguma coisa.

Trivialidade: Algumas coisas, se não são conhecidas (alguma coisa pode ser realmente conhecida nas ciências sociais?) são bem aceitas. Um artigo que já demonstra descobertas bem estabelecidas, mas apenas em outro cenário, é difícil de ser publicado. Na minha área, isso geralmente se aparece sob a forma de um artigo que tem um conceito ou descoberta sobre mercados emergentes ou desenvolvidos e aplica-os a um mercado de fronteira e encontra os mesmos resultados. Por vezes, “salami slicing” funciona também dessa maneira. Dê ao leitor uma razão sólida para a leitura do artigo.

Coerência: Alguns artigos são uma bagunça. Há uma boa razão para, e novamente isso na minha área, haver um layout convencional: introdução, literatura anterior, dados e metodologia, resultados, testes de robustez, conclusão e recomendações. Ele funciona para auxiliar o autor e, mais importante, o leitor a compreender o fluxo do artigo. Muitos ou muito poucas seções, falta de integração entre as mesmas, uma sensação de que há múltiplos autores de múltiplas vozes, ao invés de um, tudo isso torna o artigo difícil de ler e difícil de entender. Lembre-se, isso é um discurso, uma comunicação. Torne o artigo claro.

Completude: alguns artigos simplesmente não são completos. Na maioria das publicações atualmente, há uma triagem técnica antes de se chegar ao editor: os manuscritos, tabelas, figuras, dados etc. estão no texto submetido? Ele passou na triagem de plágio? Está legível? Às vezes as pessoas simplesmente se esquecem de incluir o material. É incomum, mas não é impossível de achar casos em que o artigo contém “a ser adicionado – Jim” ou algo similar. Se não está completo, o artigo não vai a lugar nenhum. Finalize o artigo.

Legibilidade: Às vezes, quando leio um manuscrito, eu sinto que estou diante de algo como Samuel L. Jackson discutindo linguística com Brett em Pulp Fiction. Inglês é inegavelmente a linguagem de publicação acadêmica. Se a linguagem está mal estruturada, crivada de erros sintáticos e lexicais, então ele vai ser rejeitado. Submeta-o a uma correção,  mesmo se você é um falante nativo de inglês.

Correção: Um artigo precisa, especialmente se ele está desafiando um conhecimento já estabelecido, ser muito bem construído e deixar o sentimento no leitor que sim, é um sólido desafio. Se o artigo deixa de fora toda uma pilha de literatura, tem estatísticas ruins, conclusões demasiado ambiciosas traçadas a partir de dados nebulosos, está em geral cheio de ciência ruim, então ele vai rebaixado. Perspectivas alternativas são ótimas, mas estar errado é uma alternativa a estar certo. Verifique o seu conhecimento.

Força: Este é frequentemente o caso quando os artigos são de pesquisadores iniciantes ou que estão impulsionando ou expandindo uma nova área. No final, queremos saber – agora o que vamos fazer ou para onde vamos? Se o artigo não pode nos dizer, talvez por causa de alguns dos outros problemas indicados aqui ou porque o artigo é muito longo ou em divagou muito até chegar ao ponto, então ele não vai prosperar. Faça o forte, mas embasado.

Replicabilidade: Integridade de dados e replicabilidade estão se tornando as principais preocupações dos editores de periódicos. Alguns adotaram uma política de ter os dados e equações submetidos com o artigo. Em geral, no entanto, o artigo deve ser completo nas suas descrições de modo que alguém em posse dos mesmos ou ao menos  semelhantes dados pode reproduzir o fluxo. Explique quais dados, qual origem, qual escopo etc.; delineie a natureza dos passos teóricos; explique as experiências. Muitas dessas explicações, que podem ser bastante longas, podem agora serem colocadas como apêndices complementares e isso deve ser feito. Dessa forma, o artigo como tal, pode ser curto e preciso e o replicador interessado pode ir para os apêndices para acessar os detalhes. Se há uma sensação de que tal coisa não pode ser replicada, então o artigo está incompleto e mal escrito e irá falhar. Nos casos em que isso se aplica, torne-o reprodutível.

Cortesia: Percebe-se que a academia é bastante pequena quando se entra no ramo de escrever e revisar artigos. Já tive a oportunidade de rejeitar um artigo de um periódico sabendo, uma vez que eu o havia revisado apenas duas semanas antes, que os autores do artigo não tinham feito qualquer esforço para resolver minhas preocupações anteriores. Isso não significa concordar com elas, isso significa enfrentá-las. O envio de um artigo literalmente idêntico, sequencialmente rejeitado, a diversos periódicos irá lhe garantir uma má reputação e você vai encontrar como editores ou outros contatos, pessoas cujos pontos de vista você desprezou. Aborde as preocupações e comentários.

Má sorte: ideias e tópicos entram e saem de moda. Não é raro ver dois ou mais trabalhos semelhantes, que incidam em áreas similares, que estão sendo submetidos juntos. Nesse caso, há um elemento de sorte. Geralmente vou tentar rastrear, via datas de rascunhos disponibilizados, e ver qual tem alguma prioridade. Essa, aliás, é outra razão pela qual os artigos provisórios e apresentações em conferências são úteis; eles mostram prioridade intelectual. De qualquer forma, as decisões salomônicas às vezes são necessárias. Sugiro que você seja rápido, mas o seja com segurança.

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G. Ferreira

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