“A Filosofia é apreender seu tempo no conceito”
G. W. F. Hegel
A afirmação de que a Filosofia consiste na apreensão de seu tempo no conceito articula e clama por explicação, ela mesma, de três grandezas profundamente complexas que, por sua vez, engendrariam uma quarta. No entanto, é precisamente do encontro de tais magnitudes na suas demandas próprias de definição que emerge a singularidade da proposição. Que as noções mesmas de apreensão, (seu) tempo e conceito articulados aí sejam, eles mesmos, carentes de refinamento e delimitação, em nada diminui o valor da definição já agora e a cada enunciação. Porque, no seu transcurso, a Filosofia – assim como os diversos mundos que historicamente a cercaram – compreendeu aqueles três elementos de maneira diversa e de modo interdependente. Pois o que Platão entendia por “apreensão”, dá-se precisamente na intersecção e na imbricação de sua compreensão mesma de conceito. O mesmo se verifica com São Tomás, Wolff, Kant, Bolzano, Lotze, Frege, Heidegger, Strawson etc. E o entendimento daquelas duas noções por todos os filósofos simultaneamente depende e determina a ideia bastante eloquente contida na definição acima de “seu tempo”, ou de tempo próprio. Porque à pergunta sobre o “seu tempo” a Heráclito, Hegel ou Adorno, que recebe uma resposta singular de cada um desses, ao mesmo tempo condiciona e recepciona as suas diversas compreensões sobre em quê propriamente consiste apreendê-lo e, ainda mais, fazê-lo no conceito.
A definição ao longo do movimento próprio de apreensão do tempo no conceito, que vai definindo e explicitando os três movimentos ao longo de sua articulação histórica, é o que talvez justifique a grandeza própria do intento de filosofar. É no próprio “apreender o seu tempo no conceito”, ele mesmo temporal, que dão-se os sentidos últimos da “apreensão”, do “tempo próprio que seja o seu” e do “conceito”. É essa mais uma via pela qual se chega inexoravelmente a inerente compreensão de que a Filosofia é necessariamente moderna, atual, hodierna. Da mesma forma, a Filosofia delimitada e definida por essas três aberturas engendra sempre e uma vez mais a unidade de três elementos fundamentalmente constitutivos da realidade em si mesma. Aí, a temporalidade e a periodicidade própria do mundo da Natureza e da Vida encontra a estabilidade perene do conceito naquele único ente no qual estes dois universos podem se consignar exatamente na tarefa humana da apreensão (porque, em seu sentido estrito, nem mesmo Deus “apreende” o mundo ou o tempo e, tampouco o poderia fazer num conceito).
Contudo, ainda que aquelas três grandezas se encontrem simultaneamente na tarefa eminentemente humana de filosofar, a abertura equívoca sempre presente desses três momentos que devem assumir seus sentidos no tempo é — e já o sabemos desde o encontro de Sócrates com Diotima – índice de incompletude, da nossa incompletude que é também a apreender, de Platão a nós, passando por Santo Agostinho, São Tomás, Pascal, Kant, Kierkegaard, Heidegger e tantos outros, cada um a “seu tempo”, é o primeiro motor da Filosofia.
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