Relendo a introdução do incrível “Ten neglected classics”, organizado por Eric Schliesser, topo de novo com a narrativa da “proposta fáustica” contada por Dennett:
For several years, I have been posing the following choice for my fellow philosophers: if Mephistopheles offered you the following two options, which would you choose?
(A) You solve the major philosophical problem of your choice so conclusively that there is nothing left to say (thanks to you, part of the field closes down forever, and you get a footnote in history).
(B) You write a book of such tantalizing perplexity and controversy that it stays on the required reading list for centuries to come.
Some philosophers reluctantly admit that they would have to go for option (B). If they had to choose, they would rather be read than right. Like composers, poets, novelists, and other creators in the arts, they tend to want their work to be experienced, over and over, by millions (billions, if possible!). But they are also tugged in the direction of the scientists’ quest. After all, philosophers are supposed to be trying to get at the truth.
When I have presented the same Faustian bargain to scientists they tend to opt for (A) without any hesitation— it’s a nobrainer for them.
(Daniel C. Dennett [2013], “A Faustian Bargain,” in Intuition Pumps and Other Tools for Thinking, p. 411)
Embora isso possa ser lido como dizendo mais sobre o ego dos filósofos do que sobre qualquer outra coisa, creio ser mais interessante pensar em como a tendência por escolher “B” não nos informa tanto sobre filósofos, mas sobre a natureza híbrida da filosofia o que, justamente, a coloca em posições tão complicadas ao longo de sua história. Do recurso e da respeitosa rememoração dos antecessores, tal como Aristóteles já o fizera na Metafísica ao falar sobre “os que primeiro filosofaram”, à “demolição do edifício de minhas crenças anteriores” de Descartes, uma vez que na filosofia, diferentemente do que acontece na matemática, impera uma discordância sem fim, a oscilação entre a aproximação à verdade e a prática reflexiva como finalidade em si mesma é mostra daquele hibridismo próprio à atividade – e à história – filosófica. O que nos traz também a uma reflexão sobre aquilo que é o centro gravitacional da filosofia, a saber, problemas. A aproximação e a atração da filosofia para com tais problemas não é, portanto, apenas em vista de solucioná-los, mas de explicitá-los, modificá-los, dar a eles novas camadas, dar novo polimento e, por fim, também ver nessas outras formas de engajamento com aqueles problemas uma parte considerável da finalidade da própria filosofia.