No último dia 31 de maio, a revista Spectator, que dispensa maiores apresentações, publicou um texto excelente do filósofo britânico Roger Scruton sobre nossa inclinação natural para o sagrado. O texto realmente deve ser lido na íntegra e é mais uma mostra de que Scruton é um dos pensadores mais lúcidos e corajosos da atualidade; afinal, denunciar as bobagens do neoateísmo ao mesmo tempo em que ousa falar em uma natureza humana que se manifesta em inclinações fundamentais – como aquela pelo sagrado –, não é, definitivamente, algo que se veja todos os dias.
No entanto, lá pelo meio do texto, Scruton faz uma afirmação baseada em uma distinção à qual se deve prestar especial atenção. Ao falar de certas experiências, como a do sagrado, mas também a do Outro, o filósofo afirma:
This experience is not accessible to scientific inquiry. It depends upon concepts, like freedom, responsibility and the self, that have no place in the language of science. The very idea of ‘you’ escapes the net of explanation.
A distinção elaborada no trecho é entre experiências acessíveis à pesquisa científica e aquelas que dependem – ou são erigidas – sobre conceitos. Alguém poderia apressadamente objetar que a pesquisa científica também está entremeada de conceitos e, de fato, sequer se sustenta sem eles. Mas parece que não é essa a diferença que Scruton tem em mente. Experiências tais como as de Liberdade, Responsabilidade e do Self parecem ter, segundo ele, outra relação de dependência ou fundação para com os conceitos.
As discussões acerca da possibilidade de redução dessas experiências humanas, mas também de todas as outras, aos aspectos neurofisiológicos, o que significaria efetuar uma redução justamente ao domínio de interações, em último grau, materiais, são infinitas e estão na ordem do dia. Ao assumir tal possibilidade de redução, alguém ver-se-ia obrigado a discordar do que afirma Scruton e sustentar que, no fundo, todas as experiências humanas estariam sim no interior do escopo da pesquisa científica. Mas a relação de certas experiências como “dependentes de conceitos” parece manter aberta a porta que os naturalistas estritos gostariam de fechar.
Ao estabelecer a distinçao acima, o que Scruton parece sugerir não é apenas a relação que existe entre experiências, sense data e conceitos. As experiências de Liberdade, Self, Responsabilidade ou Sagrado retiram seu sentido fundamentalmente dos conceitos que as determinam. Isso significa que uma explanação sobre a gênese cerebral e/ou comportamental e/ou cultural-social desses conceitos não oferece uma explicação do seu sentido último para aqueles que os experienciam. O próprio conceito de Sentido parece ser um desses casos.
Com isso, parece permanecer aberto o campo de um conhecimento acerca de experiências humanas que, justamente, não seriam redutíveis ao approach científico, mas, ao contrário, parece sugerir ainda uma vez mais a existência de um espaço para outro tipo de conhecimento, ou seja, o conhecimento das experiências que dependem de conceitos, a saber, o domínio próprio da Filosofia.
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