Texto do nosso amigo, Francisco Razzo.
Mas vamos ficar s? com o b?sico, por enquanto, nada de fazer arqueologia das id?ias: ? not?vel hoje em dia, que toda vez em que se discute ?teoria da evolu??o de Darwin? a coisa toma o caminho da intermin?vel disputa entre F? e Raz?o. Como se essa fosse a conseq??ncia mais ?bvia! ?Afinal, como ainda ? poss?vel que esses ignorantes acreditem em Ad?o e Eva??. A verdade ? que Darwin ? visto como o patrono de um tipo de postura paradigm?tica para os amantes da ci?ncia, enquanto os mais inclinados ? F? ? quero dizer os mais c?ticos em rela??o ?s verdades da ci?ncia ? s?o tachados como meros idiotas que negam a realidade e se trancam no submundo da fantasias e dos del?rios est?pidos. Resumindo: Darwin e sua Teoria da Evolu??o, sin?nimo de Ci?ncia. Religi?o (sobretudo a crist?) e sua concep??o de cria??o (bom, em sete dias, a? voc? j? est? querendo demais, n?o?) sin?nimo de burrice, estupidez, fuga do real, terrorismo etc.
Primeiramente, devemos concordar que as coisas realmente n?o s?o bem assim, vamos ser historicamente sinceros: Darwin n?o est? com essa bola toda! E depois, que a teologia crist?, sobretudo no que diz respeito ? quest?o da Cria??o e da sua antropologia (i.e. como ela define o Homem), est? longe de ser um amontoado de lorotas tolas ou historinhas da carochinha. Basta ler Santo Agostinho, Santo Anselmo e Tomas de Aquino, se ainda sobrar f?lego! Eu duvidei no come?o, fui at? esses autores, como dizem, quase que "furei os z?io", mas definitivamente mordi a l?ngua… Meu problema, revendo meu entusiasmado ate?smo, ? que a coisa toda era uma grave falta de repert?rio cultural e falta de chinelada. Chegamos a um n?vel hoje t?o lament?vel de cultura e repert?rio que se voc? n?o tiver uma opini?o sobre algum assunto, qualquer que seja, ? capaz de entrar em colapso por ressentimento. Eu confesso, quando eu era jovem e inteligente eu n?o podia admitir que algu?m acreditasse em Deus e ao mesmo tempo ser meu professor de qu?mica. Agora que estou quase com um p? na meia idade e sou tamb?m quase um tapado, eu percebo que os professores de ci?ncia que ainda hoje acreditam em Deus s?o corrosivamente mais c?ticos do que aquelas que acham que Deus ? ?pio do pov?o. Isso n?o ? regra, ? uma leviana constata??o de um leviano cotidiano escolar.
Mas, ? isso, grandes professores hoje se ap?iam n?o mais em ci?ncia s?ria, mas na maldita m?dia pseudocient?fica ou nos militantes panflet?rios que insistem na absurda exist?ncia da guerra entre ci?ncia e f?, que sinceramente chega ser escandaloso! Reproduzo aqui, para dar um ?nico exemplo, o que diz um desses divulgadores descaradamente mal-informados sobre especialidades que n?o lhe dizem respeito: No cap?tulo ?Religi?o ? O espectro que assombra?, de O espectro de Darwin, Michael Rose diz:
Todas as civiliza??es pr?-modernas tiveram teologias em que seres ou for?as de grande poder davam origem a toda a ordem aparente na Terra. Tais for?as ou seres costumavam ser racionalmente concebidos, a fim de dar sentido ?s esta??es, ? sorte na guerra e assim por diante. Antes da ci?ncia, o saber era dominado pela religi?o e os doutos, quase que invariavelmente, eram sacerdotes. Tal como as ideologias, as religi?es s?o singularmente imunes ? experimenta??o e a comprova??o. Quem insiste em apresentar provas ou argumentos que contradigam um artigo de f? ? perseguido como herege, em vez de enaltecido por sua descoberta. A religi?o interessa-se, em ?ltima inst?ncia, pela autoridade e pela f?, e n?o pela d?vida e pelo conhecimento. (p. 234).
S?o essas e outras fantasias ditas cient?ficas ? uma vez que saiu do teclado de um cientista ? que povoam a mente dos que por uma raz?o puramente ret?rica acreditam que isso seja realmente ci?ncia e aquilo religi?o. O que acontece ? que esses caras descaradamente n?o sabem o que significa religi?o, desconfio at? se sabem o que realmente significa ci?ncia, e menos ainda sabem o que significa uma religi?o como o Cristianismo. A verdade ? que esses caras, com diploma de PhD, n?o fazem a m?nima id?ia do que est?o falando, e por uma quest?o muito, mas muito delicada, n?o estudaram sobre o assunto, s?o especialistas, diga se de passagem, do mais alto gabarito em amebas, besouros, mol?culas, querendo falar, vejam s?, nada mais nada menos, do que… de Deus. Alguma vez na vida ser? que esses caras abriram uma linha de um S?o Jo?o da Cruz e notou ? com certo constrangimento, se forem sinceros ? o alto grau de d?vida, e n?o autoridade, que movia os seus passos ao Monte Carmelo? Resposta simples, n?o! Alguma vez esses caras leram excertos de um texto como o de J? e notaram que era movido por uma d?vida muito mais ardente e corrosiva do que a de qualquer um desses cientistas ditos movidos pelo conhecimento e n?o pela autoridade? ?bvio, n?o! Ou leram um o relato sobre Tom?, desesperado com o seu ceticismo em ter de enfiar o dedo na ferida do Cristo para ver se aquilo realmente era uma chaga? N?o, n?o leram! N?o sabem do que falam, mas querem manter a notoriedade, afinal, s?o cientistas em busca do conhecimento e n?o da gl?ria! Se h? uma semelhan?a e um ?elo perdido? entre a ameba e o homem, pronto: ecce homo!
Francisco Razzo
Leia tamb?m
Apontamentos sobre o Ate?smo ? Ate?smo e Raz?o
Sobre Dawkins e del?rios
C?lulas-tronco e as perguntas certas
O erro grosseiro dos daimistas
Depois de muitos anos recebendo alguns pedidos para um curso online de filosofia, vou oferecer…
Publico abaixo o texto na íntegra da apresentação à minha tradução do livro de Frederick…
Em maio deste ano, tive o prazer de ser convidado pelo Dionisius Amendola, que capitaneia…
Novo artigo aceito para publicação (a sair pela Revista Trans/Form/Ação - UNESP) sobre a leitura…
Procurando por artigos de Shamik Dasgupta em seu site, acabei clicando em uma de suas…
Relendo a introdução do incrível “Ten neglected classics”, organizado por Eric Schliesser, topo de novo…