Em uma entrevista dada à edição de julho próximo da revista Cosmopolitan (visto a partir do LifeSiteNews.com), a atriz americana Cameron Diaz declarou magistralmente que
“We don’t need any more kids. We have plenty of people on this planet.”
Como aponta a matéria do LifeSite, a atriz já tem um memorável histórico de excelentes opiniões acerca dos assuntos correlatos, como quando declarou ser favorável ao aborto pelo genial argumento que faz sucesso em conversas de salão – nas quais pensar seriamente equivale a ser banido –, o qual parte do “inalienável” direito das mulheres sobre o próprio corpo.
Entretanto, o que mais me incomoda neste tipo de declaração não é a ignorância acerca da
A primeira falácia que impregna o tal axioma a partir do qual se deduz que estamos sobrando no planeta é a de que a Terra está agonizando. Já tratei disso aqui. O ponto fundamental é que os maiores afetados pela má conservação do planeta não é o planeta – que continuará firme e forte vagando pelo espaço –, mas nós que poderemos deixar de existir. Vai daí que, no máximo, somos uma ameaça a nós mesmos e não à Terra que existirá tranquilamente sem nós e os pandas.
Mas o que é pungente é o crescente esvaziamento da dignidade própria ao ser humano de modo que ele passa agora a ser visto como excessivo ou nocivo para a boa ordem das coisas. Em geral, os grandes problemas sociais não advêm da falta de recursos frente a uma demanda que não pode ser suprida devido ao seu enorme tamanho. Os problemas que se ocultam por detrás de clichês como o da superpopulação são, em verdade, éticos. Num nível superior, tentativas meramente intra-históricas de resolver tais problemas, ou seja, sem fazer referência a um pensamento antropológico-filosófico e ético sério está, a priori, fadado ao fracasso. Dito de outro modo, a simples redução do número de pessoas no planeta não é suficiente – e certamente nem necessária –, para dar conta dos problemas da humanidade.
Derivar dessa falsa construção a ideia de que o homem é nocivo à bela ordem do mundo é o mote fundamental dos discursos contemporâneos que acabam por nivelar o homem com os outros entes naturais, movidos em geral por um fisiologismo tacanho e por clichês neo-pagãos. Favor não confundir com a visão dos filósofos gregos que viam uma unidade profunda na Physis que, obviamente, incluiria o homem. É óbvio para Aristóteles e, arrisco dizer, para qualquer um dos referidos filósofos que o homem pode distanciar-se pelo lógos e por aquilo que poderíamos chamar de liberdade ou capacidade de deliberação, patentemente não presente nos animais e nas plantas.
O novo discurso antropológico é então quase um pedido de desculpas por nossa existência e procura estupidamente resolver problemas humanos esvaziando o homem justamente de suas singularidades que tornam possível a ele decifrar e solucionar problemas. Bem-vindo à contemporaneidade.
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Caríssimo. Belo texto, uma análise precisa e pontual!
Acho interessante indicar, nesse contexto, o livro chamado A História da Idéia de Decadência no Ocidente. Artur Herman. Fornece dados precisos a respeito da construção dessa mentalidade!
Saudações
Francisco
Caríssimo Francisco.
Um elogio seu é sempre um grande estímulo. E embora não conheça tão bem o livro que você recomenda, creio que deva mesmo ser de valia, tão somente por entender esse processo como legítima decadência...rs.
Abraços.
A Referência correta do livro é:
HERMAN, Arthur. A idéia de decadência na história ocidental. São Paulo: Record
http://www.record.com.br/livro_sinopse.asp?id_livro=16277