História da Filosofia without gaps: precisamos de mais uma?

A Prospect publicou anteontem uma resenha sobre uma nova série de livros sobre a História da Filosofia, escrita por  Peter Adamson (Classical Philosophy: a history of philosophy without any gaps, Oxford University Press). Adamson, que é professor no King’s College, diz que o objetivo da série de livros é “to tell the whole history of philosophy in an entertaining but not overly-simplified way”.

Adamson já faz um trabalho louvável com o seu podcast de mesmo nome e, por esses dias, publicou no blog uma série de 9 posts com “guidelines” para compreender a história da Filosofia (não li todas, mas parecem realmente boas).

Particularmente, não sei se precisamos de mais livros de histórias da Filosofia. Já as temos em profusão.  Basta olhar a recente série do (Sir) Anthony Kenny  (também publicada pela OUP, com tradução no Brasil pela Loyola), e as mais antigas, como a de François Châtelet (uma das minhas preferidas) ou a de Émile Bréhier, para que vejamos que, se há uma compreensão ridícula da história da Filosofia e de como lidar com ela, não é por falta de compilações muito boas (ao contrário do resenhista da Prospect, não coloco a do Russell entre elas).

A meu ver, o que nos faz falta são livros e artigos sobre como se aproximar da história da Filosofia e o que fazer com ela. Ainda impera uma ideia de que história da Filosofia é necessariamente uma “arqueologia de ideias mortas” (expressão que tomo emprestada de um artigo visceral do glorioso Lima Vaz). Nesse sentido, a série de posts de Adamson com as dicas é muito mais útil e importante. Boas histórias já temos aos montes. O principal “gap” não é no acesso, mas na compreensão. O que devíamos nos esmerar por fazer é levar a fundo o tipo de discussão e compreensão envolvida, por exemplo, no debate entre Sluga e Dummet (veja o excelente artigo de J. Heis sobre isso): entender como apropriar-se – e como os filósofos apropriaram-se – da história da Filosofia como história de problemas que, por sua vez, lega um estado da questão (ainda que o estado da questão tenha sofrido uma dramática alteração ontem) sem o qual não é possível sequer entender o que os filósofos dizem – quanto mais contribuir para o estado desta ou daquela questão – é o momento mais fundamental da relação.

Sem isso, qualquer publicação que compile a história da Filosofia, ainda que sem gaps históricos ou sem deixar de fora aquele árabe que ninguém conhece, mas que influenciou todo mundo, deixa intocado o principal gap que nos distancia da Filosofia e de sua história.

 

G. Ferreira

View Comments

Share
Published by
G. Ferreira

Recent Posts

Curso de Extensão Online – Compreender Filosofia

Depois de muitos anos recebendo alguns pedidos para um curso online de filosofia, vou oferecer…

3 anos ago

Apresentação – Depois de Hegel

Publico abaixo o texto na íntegra da apresentação à minha tradução do livro de Frederick…

4 anos ago

Entrevista ao Bunker do Dio

Em maio deste ano, tive o prazer de ser convidado pelo Dionisius Amendola, que capitaneia…

5 anos ago

Novo artigo sobre Kierkegaard (e Hegel, Heidegger e Trendelenburg)

Novo artigo aceito para publicação (a sair pela Revista Trans/Form/Ação - UNESP) sobre a leitura…

5 anos ago

O Sistema de Fases para avaliação

Procurando por artigos de Shamik Dasgupta em seu site, acabei clicando em uma de suas…

6 anos ago

A filosofia entre a arte e a ciência ou O desafio de Dennett

 Relendo a introdução do incrível “Ten neglected classics”, organizado por Eric Schliesser, topo de novo…

6 anos ago