Continuando a série de dicas práticas (o primeiro post está aqui), publico agora as do meu grande amigo, Carson Webb. Carson é doutorando na Syracuse University (EUA) e Senior Research Fellow na Kierkegaard Library, St. Olaf College. É autor de diversos artigos, entre eles “Levinas on Aesthetics and the Death of God,” (Journal of Theta Alpha Kappa, 2010) e ” ‘A Swarm of Laughter!’ The Relationship between Enthusiasm and the Comic in Kierkegaard, an Enlightenment Legacy,”, no Kierkegaard Studies Yearbook 2014, bem como do capítulo sobre o conceito de “Enthusiasm” na série Kierkegaard Research – Kierkegaard Concepts, vol 15.
A tradução é minha.
* * *
Coisas que eu desejaria ter aprendido enquanto era um estudante de graduação:
1. Em primeiro lugar e acima de tudo, aprenda a manter o foco. Claro que vários comentários gerais podem ser feitos aqui: pratique exercícios, meditação, durma o suficiente etc. Mas permitam-me compartilhar algumas poucas coisas que funcionam pra mim. Primeiro, faça uma pequena lista das tarefas que você tem de cumprir durante esta jornada de trabalho. Não seja ambicioso. Cada vez que você cumprir uma delas, risque-a da lista. A gente se sente muito bem em riscar algo que acabou de fazer! Faça uma lista de tarefas específica. Nada tão geral como “trabalhar no artigo”, ler o livro X”. Minhas listas são mais parecidas com “escrever o parágrafo introdutório da seção 2”, “ler o livro X, pp. 10-50, prestando atenção especialmente aos temas a e b”. Em segundo lugar, desligue sua conexão à internet! Desligue! Pelo menos fique longe do Facebook, Google Plus, Skype, FaceTime etc., enquanto você estiver trabalhando. Você deve fazer o que for preciso para alcançar um bom estado de concentração. E terceiro, faça frequentes, mas curtos, intervalos. Eu tento fazer um intervalo de 5 minutos a cada 25 de trabalho.
2. Encontre boas fontes. A fim de achá-las, você pode pedir para seu professor boas recomendações. Mas também pode examinar a bibliografia de uma literatura secundária famosa e escolher alguns artigos e livros que tenham títulos relevantes ou que o autor use com frequência. Então, após encontrar e ler essas fontes, dê uma olhada na bibliografia desses itens e faça o mesmo. É assim que se lê adentrando em um tópico (mais do que meramente ler sobre ele). Isso demanda certo esforço e requer o tipo de atenção sobre a qual eu falei antes. Mas não demorará muito até que você se sinta seguro acerca do status de qualquer problema sobre o qual está trabalhando. Agora, isso pode continuar ao infinito. Não deixe que isso aconteça. Encontre literatura secundária suficiente para ajudá-lo a formar um argumento. Não se jogue no mar. E, faça o que fizer, não confie no Google para encontrar boas fontes!
3. Leia rápido, mas leia bem. Comece pelo final. Em outras palavras, leia a conclusão primeiro, e então leia a introdução. Isso serve a dois propósitos: 1) se for uma leitura obrigatória, você vai saber com antecedência o que o autor está defendendo; 2) se for uma leitura para um texto que você estiver escrevendo, você vai descobrir em mais ou menos 30 minutos se ela é ou não uma boa fonte para você. Se você decidir que é algo que você gostaria de continuar lendo (ou se for uma leitura obrigatória), gaste um tempo folheando e “escaneando” as páginas procurando pelos pontos principais. Marque-os ou anote-os em um papel separado. Perceba como os pontos se articulam entre si. Então, volte novamente ao artigo/livro e veja como o autor conecta esses pontos.
4. Tome notas. Eu falei sobre assinalar os pontos principais do autor ou escrevê-los em algum outro lugar. Meus livros e artigos estão cheios de palavras circuladas, linhas desenhadas pela página para conectar pontos e a maioria das margens está completamente tomada por breves resumos do que a página contém. Desse modo, quando eu preciso lembrar sobre o quê o livro/artigo fala, eu posso ler a minha marginalia. Eu incluo meus próprios comentários críticos, pontos de interrogação e observações, tais como “Comparar isto com Ferreira da Silva, p. 235; O argumento de FdS é melhor”. Eu costumo diferenciar meus comentários críticos usando letras maiúsculas. Assim eles se sobressaem. [Gabriel: of course it is only an example, hehe]
5. Escreva resumos. Depois de ler um artigo ou um livro que será particularmente importante, reserve um tempo para escrever um resumo de uma ou duas páginas que destaque três coisas: 1) o conteúdo do artigo/livro, 2) por quê essa fonte é útil para você e 3) suas próprias ideias sobre a fonte. O processo de externalizar seus pensamentos dessa forma vai ajudar a clarificar o que você está pensando. Por vezes, você vai até descobrir que pensa alguma coisa que nem sabia que pensava. Algumas pessoas dizem “você não sabe o que pensa até escrever”. E existe certa verdade nisso.
6. Faça rascunhos, mesmo que sejam toscos. Gaste um tempo para escrever rascunhos. Se possível, escreva um rascunho inteiro sobre aquilo que você deve escrever, antes de fazer qualquer edição nele. Isso significa que você deverá começar a escrever antes de realmente saber totalmente sobre o que você está falando. Sem problemas! Conceda-se a liberdade de não saber tudo antes de começar a escrever. À medida que você escreve e continua a ler suas fontes (tomando notas e fazendo resumos), seu pensamento sobre o problema vai ficando cada vez mais claro.
*
Gostou? Comente e espalhe a “palavra”.
Depois de muitos anos recebendo alguns pedidos para um curso online de filosofia, vou oferecer…
Publico abaixo o texto na íntegra da apresentação à minha tradução do livro de Frederick…
Em maio deste ano, tive o prazer de ser convidado pelo Dionisius Amendola, que capitaneia…
Novo artigo aceito para publicação (a sair pela Revista Trans/Form/Ação - UNESP) sobre a leitura…
Procurando por artigos de Shamik Dasgupta em seu site, acabei clicando em uma de suas…
Relendo a introdução do incrível “Ten neglected classics”, organizado por Eric Schliesser, topo de novo…
View Comments
Gabriel, parabéns pela idéia genial. Dicas cada uma melhor que a outra. Podem ser adaptadas também para qualquer área do conhecimento e não apenas para a filosofia. Abraço.
Sim, caríssimo Giovani! Embora todos os meus "convidados" sejam pesquisadores e professores de Filosofia, as dicas são excelentes para se estudar a sério qualquer coisa. Como eu sempre digo, é daquelas coisas que deveriam vir na cesta básica, hehe. Abraços!
Gabriel, obrigado pelas dicas, estou começando a estudar filosofia e achei elas muito valiosas e úteis.
Um abraço e parabéns pelo blog.
Obrigado, Elinho. Continue visitando e comentando.