No último dia 25 de outubro, o site do The Middle East Media Research Institute publicou uma tradução da entrevista com Hajj Abd Al-Nabi, o carrasco oficial do Egito, feita no dia 8 de setembro. Há ali trechos como os que seguem:
“When I was young – about 13 or 14 years old – the dry Ismailiya Canal in Shubra Al-Kheima still had water in it. My hobby was to catch a cat, to place a rope around its neck, to strangle it, and throw it into the water. I would get hold of any animal – even dogs. I would strangle these animals and throw them into the water – even dogs.”
Interviewer: “That was a long time ago…”
Hajj Abd Al-Nabi: “Yes, when I was 13 or 14 years old. Strangulation was my hobby. When I applied for the job and did well on the tests – proving that I could take the psychological pressure and so on – they said: ‘Congratulations. Now, grow a moustache. ‘”
“The truth is that my heart is dead, because executing comes from the heart, not the moustache. Only if you have a heart of stone can you be content in this line of work.” […]
“My parents were hard on me. They would say: ‘This will get you to hell!’ I would say to them: ‘The cat bit me,’ ‘The cat bit some kid,’ ‘The dog bit a boy in the leg, and the leg got infected.’ I became the enemy of all things harmful to Mankind.”
Interviewer: “So you were violent as a boy…”
Hajj Abd Al-Nabi: “I was a little Satan…”
Interviewer: “Did you strangle many kids you were playing with?”
Hajj Abd Al-Nabi: “Whenever I would place my hands around a kid’s neck, I would go soft when I remembered that it was a child, not an animal.”
O que penso do islamismo, ao menos o atual, pode ser visto em outros posts. A entrevista serve aqui como ocasião para uma ou outra consideração sobre o relativismo cultural, em especial em seu aspecto moral.
O que faz desta expressão contemporânea do já antigo relativismo – que ganhou impulso com o trabalho de Franz Boas no século XX –, talvez, sua mais perigosa manifestação, é a facilidade com a qual ela é aceita como argumento que se imporia com força absoluta, não obstante, a meu ver, ele repouse sobre um raciocínio brutalmente falho.
É inegável que um silogismo relativista “ingênuo” causa questionamento ou mesmo repulsa como primeira reação: dizer que se acha justificável agir da maneira X (que tem impacto mais ou menos negativo sobre outras pessoas ou, vá lá, animais. Pense em assassinar ou violentar, por exemplo) – porque se pensa ser correto, imediatamente faz com que o interlocutor demande que se apresente “razões”, ou mesmo vete peremptoriamente como uma ação (intrinsecamente) imoral ou injustificável num plano mínimo de condições aceitas por seres humanos normais (uso “”normais” aqui, de maneira deliberada, pois como afirmarei abaixo, creio com todas as letras que um sujeito como Al-Nabi é portador de psicopatia severa).
Mas experimente alterar minimamente a posição dizendo que há uma sociedade em algum lugar do globo para a qual fazer X é absolutamente legítimo e pronto: haverá centenas, talvez milhares de defensores do direito que tal cultura tem de expressar suas opções sem que jamais eles sejam questionados em seu valor de verdade moral, sobretudo se eles se colocam em confronto direto com a reles moral ocidental judaico-cristã. Como se vê, é uma espécie de raciocínio que opera contrapondo instâncias absolutamente distintas: discussão sobre valores a contra-exemplos fáticos, não querendo derivar desses últimos algum valor que se pretenda uma alternativa a outro enquanto valor moral, mas, é importante que se diga, desejando que a mera existência de tal prática por tal sociedade justifica per se a execução da ação. Embutida nessa contraposição já deficiente, está também certo axioma absolutamente não-evidente que pretende afirmar que a simples existência de um agrupamento humano – ou seja, vários ou muitos indivíduos – implica em maior força argumentativa em comparação à minha primeira formulação acima, em que apenas um único indivíduo pretenda realizar X.
Assim, mesmo frente à confissão de posse de um “coração satânico”, os defensores consistentes do relativismo moral cultural devem assumir que nada se pode dizer ou fazer contra Hajj Abd Al-Nabi e outros já que, estrangular um gatinho aqui ou um cachorrinho acolá, é tão moralmente aceito – vale até um emprego público! – no Egito. Por aqui, eu não hesito em dizer que este sujeito é um psicopata que fez de sua patologia, profissão (embora chame atenção o fato de que até Al-Nabi demonstra saber a diferença entre um ser humano e um animal; distinção esta, muito complexa para alguns de nossos ativistas). Digo apenas que, de bom grado, eu ajudaria a pagar passagens para que alguns dos nossos “ativistas” fossem resgatar animaizinhos no Paquistão, Egito ou no Irã, caso desistissem, obviamente, de serem consistentes com o relativismo moral cultural já que toparam ingerir nos hábitos e valores de outra cultura, em nome de seja lá o que julguem superior.
Ainda continuarei com o assunto.
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