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“Self” para além da Ontologia: o que a Filosofia ainda teria a oferecer?

Ao esboçar em linhas gerais a história das diversas aproximações ao conceito de Self na filosofia ocidental, Michael Theunissen, em seu Der Begriff Verzweiflung: Korrekturen an Kierkegaard (traduzido em inglês apenas como Kierkegaard's concept of despair (Princeton University Press, 2005), sem a importante parte das “correções a Kierkegaard”), traça três grandes movimentos ou períodos. No primeiro deles, a autorrealização é definida em termos da atualização de uma concepção ou ideia mais ou menos geral de homem. O segundo caracterizar-se-ia por uma noção de que o Self deveria consistir no desenvolvimento de sua própria individualidade, embora ainda assumindo certa universalidade baseada na pressuposição de que todos desejam, ainda que a seu modo, ser indivíduos. O terceiro momento ou época consistiria numa concepção de realização de si como a própria individuação, isto é, que a autorrealização do Self consistiria no desenvolvimento de uma unicidade desembaraçada ou independente de toda e qualquer concepção universalista (veja-se THEUNISSEN, 2005, pp. 24-26)

E aqui chegamos ao que nos interessa. A constatação de Theunissen acerca desse terceiro momento coincide com a constatação de um esforço ou tentativa de superação do “apelo” à Metafísica como esfera na qual seria possível encontrar traços ou estruturas gerais ou universais. De fato, ainda que se possa discordar do quadro geral de Theunissen, o cerne da descrição do terceiro momento ou estágio parece descrever com certa exatidão o cenário atual, no qual as estruturas universais, se existem, são descritas em termos fisiológicos, orgânicos, genéticos etc. Com certa bondade, alguns ainda estariam dispostos a admitir traços mais ou menos gerais advindos da psicologia ou das ciências socias. Contudo, atualmente parece que o recurso à uma Ontologia predominantemente “conceitual”, que seria capaz de fornecer algum elemento universal, está vetado como uma opção epistemologicamente inválida.

Surge então a questão (não interessando aqui, por ora, qual seja a minha posição): seria ainda possível à Filosofia strictu senso fornecer alguma contribuição positiva na tarefa de definição ou exposição de estruturas universais sobre o homem e sobre sua tarefa de compreender-se a si mesmo durante a vida? Para uma entendimento pós-metafísico, há ainda espaço para a Filosofia no que diz respeito à pergunta “O que é o homem?”. Ou será que aceitamos depressa demais mais essa “superação” da Metafísica?

 

 

G. Ferreira

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