Estou lendo já há um mês o excelente primeiro volume do projeto monumental de Jean-Christophe Bardout, Penser l'Existence. O objetivo da pesquisa é expor a história da noção de Existência, desde o seu surgimento, no século IV d.C. com Marius Victorinus (o sujeito simpático da gravura ao lado), até os tempos contemporâneos, passando pela severas mutações sofridas pelo conceito durante a filosofia moderna. O primeiro livro – L'Existence exposée – époque médiévale (Paris: Vrin, 2013, 487pp.) é dedicado, então, ao primeiro capítulo dessa história – do surgimento ao fim da Escolástica.
Na introdução, Bardout aponta três dificuldades iniciais para a reflexão sobre a Existência que, a despeito de estarem intimamente conectadas às problemáticas cristológicas, perpassam, creio eu, as diversas etapas da história do conceito, e que traduzo abaixo:
“A esse respeito, a dupla exposição da existência, que caracteriza uma de suas aproximações medievais (existir é ser fora de suas causas e fora do espírito) nos deixa, em última análise, diante de uma tripla dificuldade.
– A existência se dá, de início, por um modo de ser universal de tudo o que é, enquanto que sua determinação causal exclui Deus, o qual toda a tradição medieval repete que é absolutamente sem causa. Essa exclusão traria uma secreta contradição que minaria desde o seu interior a coerência de uma noção de existência?
– Paralelamente, a determinação causal da existência enuncia uma propriedade, por assim dizer, negativa: ser fora de sua causa não diz o que é a existência, mas assinala sobretudo o lugar, ou melhor dizendo, traz o seu não-lugar. Pode-se fazer assim a mesma observação a propósito de sua determinação cognitiva, como ser fora do espírito e correlato da intuição;
– Por fim, o conhecimento conceitual é inoperante diante da existência, ao ponto que a especulação noética da Idade Média tardia foi levada a inventar, com a intuição, um modo específico de apresentação dos objetos, ao lado do conhecimento abstrato, existencialmente neutro. E ainda, conviria perguntar o que o conhecimento intuitivo nos ensina verdadeiramente sobre a existência, que ela reduz a um puro fato, consignado em uma proposição existencial do tipo: X que existe é a causa natural mais provável da intuição que tenho. No momento em que o conhecimento intuitivo alimentasse a esperança de tocar, ao fim e ao cabo, a existência, uma vez mais, não encontra-se ela como que fugida? A especulação medieval nos conduz a duas aporias: mais que uma improvável definição da existência, põe-se em evidência uma série de propriedades que convêm a tudo o que existe. Chega-se então a determinações ontológicas universalmente válidas, cuja conjunção perfaz, por assim dizer, a existência. Ora, como não é demais lembrar, só o singular existe verdadeiramente. Os caracteres do existir (propriedades comuns e unívocas) parecem contradizer a condição ontológica do existente ao qual eles se aplicam. O problema da existência não junta-se àquele da singularidade? Se todo singular é indizível, sua existência seria determinável em um conceito que se aplciaria validamente a muitos singulares?”
Desnecessário dizer que cada uma dessas dificuldades está contida no escopo da reflexão kierkegaardiana e, em especial, na questão da possibilidade mesma de uma Existentiel-Videnskab.
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