Há dois meses fui convidado por um grande amigo sacerdote a escrever pequenas contribuições ao jornalzinho de sua paróquia, o que tenho feito com prazer. Embora não sejam grandes em tamanho e em envergadura teórica, vou postá-los aqui. Talvez sejam de alguma valia. Segue, então, o primeiro dos três que já escrevi.
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É com imensa alegria que escrevo estas linhas que inauguram esta coluna. Desejo fazer deste espaço uma oportunidade de reflexão e crescimento, tanto para vocês, que me leem, quanto para mim que escrevo. Muitos assuntos e temas serão tratados aqui. Também, com o tempo, vamos nos conhecendo melhor. Contudo, desejo sempre ter em vista o seguimento daquilo que nossa Igreja nos aponta. Assim, pretendo comentar desde notícias e temas ligados à nossa fé, até responder questões sobre a Santa Doutrina, quando me for possível.
É neste sentido que desejo começar com alguns poucos comentários acerca de uma citação das Escrituras que, penso eu, deve estar sempre no horizonte de nossas reflexões e orações, como baliza para nossa vivência pessoal e comunitária.
Ela está no versículo 15, do terceiro capítulo da primeira carta de São Pedro (1Pd. 3,15). Nesta carta, São Pedro se dirige aos cristãos "eleitos que são estrangeiros e estão espalhados" em vários lugares (v. 1). Entre várias admoestações, está no versículo 15 aquela que primeiro nos interessa: "Portanto, não temais as suas ameaças e não vos turbeis. Antes santificai em vossos corações Cristo, o Senhor. Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito."
Neste versículo, São Pedro nos convida a estarmos sempre prontos, ainda que com mansidão, a defender a nossa fé e a dar a razão de nossa esperança. As palavras usadas no texto grego original não deixam dúvidas: "apología", defesa, discurso com a finalidade de justificar e "lógos", razão, discurso encadeado e racionalmente compreensível. Desse modo, São Pedro nos convida a conhecer de maneira mais profunda e professar conscientemente aquilo que Cristo e sua Igreja nos ensinam.
Entretanto devemos ressaltar mais um aspecto interessante desta passagem. São Pedro coloca este chamado à defesa e à explicação da nossa fé para aqueles que nos pedem, em profunda conexão com a santificação de Cristo em nossos corações, bem como com a nossa segurança e capacidade de ultrapassar os temores e vacilos em nossa vida de fé. A superação de nossos receios e temores só pode se dar se santificamos realmente Cristo em nossos corações, o que, por sua vez, depende de um conhecimento profundo de nossa fé, que se desdobra também na nossa firme capacidade de a professarmos e de a justificarmos publicamente, junto aos nossos irmãos que não a conhecem ou que a atacam, sempre com "suavidade e respeito".
E como crescer na fé senão pela oração em conjunto com a escuta atenciosa da Palavra de Deus que emana das Escrituras e do Magistério da Igreja? Quantas vezes não somos tentados ou mesmo atacados por doutrinas e idéias vãs ou vemos algumas pessoas serem levadas por elas? Quanto conhecemos da nossa própria fé, do Credo que em toda missa professamos? E da história de nossa Igreja? Santificamos o Senhor em nossos corações pela firmeza do conhecimento de nossa fé? Que importância damos à catequese?
Na próxima edição, comentarei o chamado que São Paulo nos faz à fé adulta.
Um abraço.
Muito bom, Gabriel!! É, como se costuma ler aqui, uma das maiores dificuldades que a Igreja enfrenta hoje: a falta de conhecimento, de compreensão dos fiéis acerca de sua própria fé, da doutrina de sua própria Igreja.
Incluo-me nessa lista de fiéis que não possuem um “conhecimento profundo de nossa fé”. O ponto da catequese a que você se referiu é fundamental. Acredito ser indispensável que os catequistas abordem, em seus grupos de estudos, por exemplo, os aspectos da fé cristã mais sujeitos à crítica moderna. Em se aceitando essa necessidade, o problema passa a ser encontrar catequistas preparados para isso.
Talvez, quem sabe, na sua coluna você possa explicitar algumas maneiras para combater o bom combate. Claro, combater sempre com “suavidade e respeito”.
Um grande abraço!
Caríssimo Marcelo.
Agradeço pelo elogio e é sempre muito bom ler seus comentários. De fato, “somos todos servos inúteis”. Mas o que impressiona é, na maioria das vezes, o conformismo.
Até domingo posto o segundo texto. Comente!
Grande abraço.