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Artigo Pastoreando – 5

Abaixo, minha 5ª contribuição ao jornal da paróquia Jesus Bom Pastor que, apesar de sucinta, é feita com um especial carinho e devoção. A primeira meditação sobre os 12 artigos da Profissão de Fé.

* * *

CREIO, CRER

A profissão de fé cristã se inicia com uma afirmação que perpassa todos os artigos subsequentes: creio. Há aqui duas coisas muito importantes.

A primeira delas é que o Credo é composto, como já dissemos anteriormente, por artigos e não por partes isoladas ou por princípios, axiomas ou teses. São artigos (do latim articulus) porque são articulados, como membros que se ligam e formam uma entidade única não passível de separação. É por isso também que o Credo é dito símbolo (do grego symbolon), pois é uma união não aleatória de elementos que se completam. Assim, é com a mesma crença e a mesma fé, sem distinção, que professamos tudo o que se segue.

Mas o “Creio” no início do símbolo de fé não é meramente uma afirmação formal sobre o que virá, como se fosse desprovido de conteúdo e só apontasse para a importância dos outros momentos. Ele mesmo já veicula uma grande verdade de fé, a saber, que é possível a nós, seres humanos, crermos. Dizer “creio” já é manifestar que desde a criação o homem foi querido por Deus de um modo especial. É só ele, dentre todas as criaturas, que recebe o sopro divino (pneuma, ruah, espírito; Gn. 2,7). É só ao homem que Deus, desde o início, já comunica algo de Si, elevando o homem como a mais querida das criaturas e, de certo modo, já antecipando Seu movimento de comunicar-Se e entregar-Se ao homem manifestando Sua vontade através dos patriarcas, dos profetas e, no ápice dos tempos, assumindo Ele mesmo a natureza de tal criatura, em Cristo Jesus. A possibilidade de dizer “Creio” já é, portanto, em si mesma, condição para crermos nas demais partes articuladas e inseparáveis que compõem nossa profissão de fé mas também uma das secções deste corpo articulado que, quando compreendido, antecipa as demais. É só porque Deus, em seu infinito Amor, nos fez capazes de dialogar com Ele, em suma, de dizer Tu para Deus, é que somos os destinatários da Revelação de seu Filho cuja motivação última é a de que nenhum de nós nos percamos.

Por isso, ao dizermos “Creio” na profissão de fé, meditemos sobre a própria Fé, dádiva divina a nós que, não só nos torna capazes de participarmos de Sua vida, mas também de experimentarmos, por si mesma, o Amor inesgotável de Deus por nós.

G. Ferreira

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G. Ferreira

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