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Artigo Pastoreando – 9

Padeceu sob Pôncio Pilatos: foi crucificado, morto e sepultado

O quarto artigo do Símbolo Apostólico sintetiza diversos aspectos fundamentais da nossa fé na  medida em que reúne elementos fundamentais da nossa Salvação.

Em primeiro lugar, há uma indicação de natureza histórica: O julgamento e a condenação de Nosso Senhor Jesus Cristo tem uma determinada localização na história humana, a saber, foi na época em que Pôncio Pilatos governava a Judéia. Contudo, a importância da presença de Cristo em nossa história a ultrapassa infinitamente. Ele vem ao encontro da humanidade no tempo para nos remir de uma falta supratemporal, ou seja, de nossa ofensa infinita a Deus. Como nos diz São Tomás de Aquino, Cristo ofereceu-se em sacrifício em nosso favor por duas razões: a primeira, para ser o remédio para o pecado e, a segunda, para servir de exemplo para como deve ser a nossa própria vida, a saber, de total entrega a Deus Pai. Assim, para exaurir nossa culpa, foi necessário que a própria Segunda Pessoa da Trindade se oferecesse em sacrifício por nós. Do mesmo modo que em Adão – primeiro homem – todo o gênero humano pecou, em Cristo – novo Adão – todos fomos justificados.

Uma vez morto, e morto verdadeiramente, o Senhor foi sepultado conforme os costumes judaicos. Contudo, aquilo que é o centro do artigo não pode ser outro que não a Cruz.

O Senhor foi crucificado, isto é, padeceu de uma forma violentíssima para que, ao contemplarmos o horror de sua morte, pudéssemos também nos escandalizarmos com nossos pecados. Devemos ver então, no Crucificado, todas as virtudes humanas em sua máxima expressão, bem como o amor de Deus para conosco em todo seu esplendor. É também de Seu lado ferido que nasce a Igreja, como nos lembra São João Crisóstomo, que nos ensina a reconhecer na água que dele escorre, o santo Batismo que nos assimila ao Senhor, e no Seu preciosíssimo Sangue, a Eucaristia, fonte e ápice de toda a vida eclesial. Contemplemos o Senhor na Cruz, o Deus que se esvazia por nós e adoremos o mistério que nos salva.

Um abraço.
Gabriel Ferreira

P.S.: Veja uma das mais fortes crucificações, a de Tintoretto, em imagem de alta definição aqui.

G. Ferreira

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