As últimas ações da agenda que visa agredir a Igreja a partir das falsas acusações sistemáticas tiveram, ontem, enfim, uma resposta à altura. Ela veio do Cardeal Tarcisio Bertone que afirmou o óbvio ululante: a esmagadora maioria dos casos envolvendo o abuso sexual de crianças e adolescente por membros do clero se deu entre padre e meninos, portanto, com ligação íntima com o homossexualismo e não com o celibato. Mas parece que alguns esqueceram de entender conclusões óbvias:
1. Que a pedofilia é uma perversão, até os críticos mais virulentos o reconhecem. Mas por que a sodomia não? O ponto crucial para a legitimação moral é a legitimação social? O fato de que seja socialmente aceitável a relação homossexual exclui per se o debate? Se assim for, Deus nos livre, se chegarmos a uma sociedade que assimila a pedofilia como comportamento sexual aceitável ocorrerá por si só uma metábasis eis allo génos (uma mudança de gênero) em relação ao seu valor moral? O mesmo para a demais parafilias (necrofilia, zoofilia etc.)?
2. Chega a ser ultrajante a tentativa de relacionar o celibato clerical à pedofilia. O arremedo de argumento apresentado pelos defensores de tal associação repousa sobre uma inferência ridiculamente falaciosa de que uma suposta repressão da libido geraria necessariamente um extravasamento desordenado, como a pedofilia. Nada mais patético.
Já Aristóteles chamava a atenção para que a existência de razão e certa liberdade eram os sinais distintivos do homem em relação aos demais entes da natureza. Isso significa que ao homem é possível, diferentemente dos animais e das plantas, optar até contrariamente à natureza se sua deliberação racional o mostrar como mais adequado ou vantajoso. Desse modo, é possível reprimir o desejo de comer, dormir ou copular em benefício de outras finalidades mais altas.
Dizer então que a opção pelo celibato é algo antinatural já é por si só prova de imbecilidade ou má-fé. É tão naturalmente possível quanto a dieta. Do mesmo modo, dizer que optar pela castidade tem como consequência necessária a irrupção do desejo sexual de maneira desordenada é dizer que o jejum é sucedido obrigatoriamente por orgias gastronômicas ou que a abstinência de determinado alimento ou substância precede o excesso.
Some-se à ignorância (e à má-fé) a importância inegavelmente extremada atribuída à dimensão sexual. Por vezes ela parece ser a última instência de sentido existencial, o que agrada aos espiritual e intelectualmente fracos que gostam de banir a reflexão sobre o assunto sob o nome de repressão. Se há uma relação possível de ser feita é justamente aquela óbvia que conecta um hábito pervertido (pedofilia) a outro hábito igualmente desordenado (homossexualismo).
3. Em tudo isso é absolutamente visível que a meta é denegrir e rebaixar a Igreja mediante um esforço sistemático e obstinado de coerção semântica, cuja finalidade é forçar a associação entre as palavras “Igreja” e “Pedofilia”. E como bem se sabe, a manipulação da linguagem é sempre sinal de manipulação intelectual. Note-se que todo clichê que é repetido à exaustão é sinal de que seu significado está cristalizado de modo que refletir sobre ele não é mais necessário. Não é exatamente o que se pretende: a repetição nauseante das palavras “Igreja” e “Pedofilia” nas mesmas sentenças a ponto de que seus sentidos se fundam de modo que à menção de uma brote imediatamente a outra?
Triste é ver a Santa Sé se pronunciar contra o Cardeal que só enunciou a verdade dos fatos. O que nos lembra que a resposta que dá o Senhor ante o escárnio e a humilhação: “Replicou-lhe Jesus: Se falei mal, prova-o, mas se falei bem, por que me bates?” (Jo 18,23).
* Há dois excelentes posts sobre o assunto: um do Julio Severo e outro no Neo-Ateísmo, Um delírio. Em tempo, artigo da Zenit sobre o mesmo assunto.
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Tendo a concordar com vc, exceto no fato de que a fala do cardeal Bertone ocorre em momento muito inoportuno. Por mais embasamento que tenha, não é algo que ajuda a sanar o problema. Não consola as vítimas nem demonstra compaixão pelos pecadores. Se o objetivo era defender o celibato, deveria de fato defendê-lo em vez de acusar o que não é celibato.
Pior ainda o Pe. Lombardi, cuja função parece ser apenas a de desmentir. Não sei até que ponto ele tem automia, mas não é a primeira nem a última vez que ele demonstra despreparo. Muito incoveniente.
O Papa já falou sobre o assunto na carta à Irlanda. Para mim, se o Papa falou, todos da Igreja deveriam ficar de boca bem fechada, a não ser para repetir o que o Papa disse. Se tiverem algo a acrescentar, que falem pessoalmente ao Papa.
Grande abraço!
Prezado Filipe.
De fato, o alinhamento do clero às palavras do papa deve ser compulsório. Contudo, a massa de acusações demanda um posicionamento explícito. Assim, não creio que os prelados devam falar apenas no sentido de ajudarem a resolver o problema (isto sim, em curso pelo papa e pela Igreja como um todo), mas de desvelar os problemas de fundo. Não creio que calar-se para simplesmente evitar o choque com a opinião pública seja também a atitude mais condizente com o momento.
Abraços e obrigado pela visita e pelo comentário.
G.
Caríssimo Gabriel!
Reflexão primorosa, séria e muito bem argumentada. Infelizemente a grande mídia carece de todos esses atributos - que são mínimos para quem se propõe a tratar de tal tema - e o rastro que deixa é o da perversão totalmente do bom senso!
Pax et Bonum
Santa Clara de Assis ora pro nobis!