Heráclito de Éfeso, fr. 123
Em sua coluna de ontem, 20 de julho, a jornalista Bia Abramo fala do novo aporte aos documentários sobre bichos e florestas, assumido pelo biólogo Richard Rasmussen. De fato, o programa se destaca pela paixão com a qual Richard empreende suas aventuras. Mas o que me chama atenção é o final do texto da colunista:
… [o programa desperta] a sensação de que aquilo é tão precioso e único que a vida humana soa como uma ofensa.
Pra começar, não sei de que vida humana a colunista fala. Talvez haja algumas que despertem mesmo uma angústia doída. Mas "a vida humana" em geral? A dela, inclusive? A do biólogo que ela elogia? O que me leva a algo que há tempos quero escrever:
A ofensa a que a jornalista se refere deve ter por fundo a atitude devastadora, hostil e sem senso estético do homem (todos?) que destrói a Natureza, preciosa e única. Mas vamos por partes.
O cerne do discurso ecocêntrico (!!!), do qual aquele da jornalista é uma amostra-grátis, é que a Natureza é quase uma entidade que, inclusive, encarna personalidade jurídica a ponto de ter direitos. A partir daqui a coisa vai por si: ela deve ser preservada e nós, homens, somos violadores dos direitos sagrados da terra e da mãe Natureza. Salvem os pandas, os micos, e tudo o mais da voracidade que não conhece limites.
Entretanto, creio eu, tal discurso tem um fundo falso imperceptível e opaco até mesmo para os ambientalistas: o que significa, de fato, conservar a natureza com sua miríade de espécies, essa coisa tão "preciosa e única"?
Já os gregos sabiam que a physis não tem começo nem fim. Ela se impõe. Seja vista pela categoria (humana) da repetição, do ciclo, ou por qualquer outro viés, o que subjaz aqui é sua permanência. Ora, quem se interessa, de fato, pela manutenção das coisas tal como ela é hoje, só pode ser essa espécie malvada e egoísta, ofensiva até, chamada homo sapiens sapiens. A destruição da biodiversidade não apresenta o mínimo problema para a Mãe Natureza. A Terra já passou milhões de anos sem a biodiversidade linda e maravilhosa que aí está e passará muitos outros milhões sem elas. O único interessado em tal preciosade é o homem sob pena de, ele sim, deixar de existir. Do ponto de vista da Natureza, o panda e o mico-leão dourado não passam de momentos fugazes e contingentes. Seu completo sumiço apresenta consequências desastrosas para nós, que ficaremos sem este ou aquele predador natural para determinadas pragas ou, ainda, sem esta ou aquela possibilidade de cura escondida em alguma planta obscura.
Com o que escrevi não quero dizer nada além disso: as campanhas de preservação iam ganhar e muito apresentando o real motivo para que se cuide do meio-ambiente: a preservação da NOSSA espécie. Só aí posso concordar com a colunista ao dizer que nós somos uma ofensa: por sermos egoístas e usarmos figuras tão preciosas e únicas como bandeira para nossa auto-manutenção. Ou por fazermos milhares de estenuantes programas de televisão sobre todas as espécies deste ou daquele animal ou planta, com o pretexto de "para preservar é preciso conhecer". é verdade e já o dizia Sócrates…
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Pode fazer o que quiser. é o governo quem diz
“O ponto de vista da Natureza, o panda e o mico-le?o dourado n?o passam de momentos fugazes e contingentes.”
Bom, sob este ponto de vista, a esp?cie humana tamb?m n?o passa de momento fugaz e contigente. A Natureza, sem d?vida, n?o se importa com o panda mais do que com o homem, assim como o inverso.
Concordo com seu texto no que tange ao fato de que a motiva??o ecol?gica ?, em geral, a sobreviv?ncia da esp?cie humana, assim como de outros interesse humanos secund?rios.
Discordo, no entanto, da falta de distin??o entre plantas e animais. Voc? deve saber que h? uma discuss?o s?ria e s?lida sobre direitos dos animais, na qual se contesta os crit?rios tradicionais de delimita??o dos seres com direitos morais e legais.
Voc? tem toda a raz?o, Glauber. A humanidade est? inclu?da na categoria dos ef?meros e contingentes. Com a diferen?a que s? n?s fazemos tais campanhas de preserva??o. Mas sob esta ?tica, n?o consigo ver em qu? a distin??o entre plantas e animais mudaria alguma coisa.
Abra?os e apare?a.
Voc? quiz dizer que podemos pensar do jeito que quizermos mas o governo ? quem diz
N?s podemos pensar o que quizer
mas quem diz o que fazer ? eles..
Sou do SENAC av.FRANCISCO MATARAZZO…
BOM,TUDO MUNDO SABE QUE N?S SERES HUMANOS N?O NOS PREOCUPAMOS COM A NATUREZA, NINGU?M VE QUE , QUEM EST? DESTRUINDO A TERRA SOMOS N?S.
ABRA?OS JANE DO PET.
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