O jornal Sydney Morning Herald publica, na edição de hoje, uma matéria comentando a reação de indignação do Vice-Chanceler da Universidade de Sydney, Michael Spence. O fato é que o Australian Research Council (ARC) anunciou que vai redirecionar os fundos de algumas pesquisas a fim de combater gastos excessivos. Como exemplo de pesquisas que seriam um desperdício de dinheiro, o Conselho destacou o projeto do Prof. Paul Redding cujo título é "The God of Hegel’s Post-Kantian idealism".
Ora, Paul Redding não é um beginner; ao contrário, é um sujeito com diversas publicações e é bem conceituado entre seus pares. Entretanto, isso parece não ser relevante. O ponto principal do órgão de fomento à pesquisa parece ser – ainda que não explícito – que, em suma, uma pesquisa em Filosofia, ainda que consistente, produtiva e bem avaliada, não vale o investimento (ou não vale só se for em Filosofia Continental?).
Este problema não é propriamente novo, tampouco único. Diversas universidades nos EUA cortaram verbas e mesmo fecharam departamentos de humanidades em geral. A professora e pesquisadora Martha Nussbaum saiu em defesa da validade das Humanidades em seu livro de 2010, Not for profit: Why democracy needs the Humanities, com o argumento de que elas – e, portanto, também a Filosofia – desempenham papel fundamental na construção e na manutenção da democracia e de suas instituições. Embora ela mesma diga que há outros argumentos para sustentar a validade do ensino e do estudo das Humanidades, a profa. Nussbaum afirma que optou por sua contribuição à democracia por julgar que assim conseguiria maior penetração no debate.
No entanto, creio que a visão teleológica, que trata a Filosofia – bem como as Artes ou a História – como instrumento cuja finalidade e validade encontram-se para além de si própria – a democracia, a cidadania, o pensamento lógico etc. – está fadada ao fracasso por conceder, de saída, a falta de valor intrínseco da atividade teórica – ou contemplativa –, e começa entregando o que devia defender. Faço minhas as palavras de Bill Vallicella:
What I object to, however, is the notion that philosophy needs to justify itself in terms of an end external to it, and that its main justification is in terms of an end outside of it. The main reason to study philosophy is not to become a more critical reasoner or a better evaluator of evidence, but to grapple with the ultimate questions of human existence and to arrive at as much insight into them as is possible. What drives philosophy is the desire to know the ultimate truth about the ultimate matters. Let’s not confuse a useful byproduct of philosophical study (development of critical thinking skills) with goal of philosophical study. The reason to study English literature is not to improve one’s vocabulary. Similarly, the reason to study philosophy is not to improve one’s ability to think clearly about extraphilosophical matters or to acquire skills that will prove handy in law school.
Philosophy is an end in itself. This is why it is foolish to try to convince philistines that it is good for something. It is not primarily good for something. It is a good in itself. Otherwise you are acquiescing in the philistinism you ought to be combating. Is listening to the sublime adagio movement of Beethoven’s 9th Symphony good for something? And what would that be, to impress people with how cultured you are?
Mas e então, como argumentar neste sentido com burocratas? Ou é esta uma tendência irreversível?
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